Os irmãos gêmeos e o espaço sideral

EM 9 set, 2017

Talvez você não se recorde, mas já tem um ano que a NASA iniciou um teste fantástico com a finalidade de descobrir quais as reais ações que o espaço sideral (ou o ato de viver nele) afeta o corpo humano.

Cansamos de ver filmes, agrande magia da exploração do pensamento humano sobre a vida fora da terra, e sempre tudo o que envolve essas aventuras cinematográficas nos desencadeava uma série de perguntas. Houve autores que desenvolveram teorias mirabolantes sobre a ação do espaço-tempo na vida humana; houve autores que trataram o tema como se o espaço fosse apenas mais um lugar para o corpo humano continuar a se perpetuar.

Mas a NASA precisava saber mais. Ou melhor, saber tudo. Afinal, dessas pesquisas sairão as premissas para todas as futuras viagem do homem à outros planetas, e, quem sabe um dia, outras galáxias. Afinal, a ficção tem a barreira da realidade.

Primeiros resultados de experimento com gêmeos astronautas trazem uma grande surpresa

Mark Kelly (direita) diante de seu irmão gêmeo Scott Kelly (esquerda) | Imagem: NASA

No último mês de março o astronauta norte-americano Scott Kelly voltou à Terra depois de ter passado quase um ano, 340 dias, na Estação Espacial Internacional. Seu irmão gêmeo, Mark, ficou na Terra, aguardando o retorno de Scott, para dar início à bateria de testes e exames mais interessantes que a NASA já realizou sobre os efeitos do espaço sobre o corpo humano.

A forma como o espaço afeta o organismo do ser humano é um assunto fascinante, já tratado em diversas ocasiões aqui, e podemos dizer claramente que ser astronauta é uma atividade que carrega consigo uma série de riscos físicos que não podem ser desprezados. Além da evidente perda da musculatura, durante os últimos anos foi documentada uma ampla variedade de problemas físicos que incluem complicações cardíacas, distúrbios do sono, problemas auditivos, renais, e até imunológicos.

Apesar disso, até agora havia sido impossível comprovar estes efeitos no campo da genética. Para tal, seria necessário contar com dois astronautas gêmeos, e é aí que entram nossos protagonistas: Scott e Mark.

Scott passou 340 dias na Estação Espacial Internacional, enquanto Mark ficou na Terra | Imagem: NASA

Chicago, Houston, Boston, Nova Iorque… no total são dez instituições, de diferentes cidades e países, participando de um estudo, ao qual a NASA deu uma grande importância, e que possui um site oficial completo (Twin Study) para publicar os resultados que estão sendo alcançados.O primeiro, por ser o mais evidente e fácil de medir, é a estatura. Scott Kelly voltou mais alto do que quando partiu, com uma diferença de cinco centímetros, um crescimento significativo.

Como é possível imaginar, o restante dos dados, principalmente os que pertencem ao DNA, demorarão alguns meses. No entanto, embora ainda seja necessário organizar o relatório completo, os primeiros resultados provisórios já começaram a aparecer.

Scott Kelly passou por diversos testes e exames após o seu retorno | Imagem: NASA

No que diz respeito às análises genéticas, a primeira grande surpresa foi observada nos célebres telômeros, ou seja, a parte final dos cromossomos que, ainda que não tenham funções codificantes, possuem um papel fundamental para manter a estrutura correta desses cromossomas. Manuel Collado, Doutor em Biologia Molecular, costuma explicá-los de uma maneira simples, usando a comparação das pontas dos cadarços dos sapatos para se referir à função dos telômeros que estariam, assim como as capinhas plásticas usadas para proteger as pontas dos cadarços, protegendo a integridade dos cromossomos.

A longitude destes telômeros foi associada em diversos estudos a uma maior longevidade, por isso uma análise de como uma situação de microgravidade os afeta, pode ser muito interessante.

O lógico seria pensar que, dada a dificuldade das condições no espaço e os efeitos prejudiciais para o organismo que já conhecemos, os telômeros do irmão gêmeo que passou um ano na estação espacial houvessem “encolhido”. No entanto, os resultados surpreenderam os pesquisadores ao mostrar que os telômeros de Scott Kelly estão mais longos, justamente o contrário do que se imaginava.

O estudo com os gêmeos ainda continuará, em várias etapas, incluindo novos exames e testes, aprofundando os resultados já obtidos. Agora começa o trabalho para responder à pergunta: Por que os telômeros dos cromossomos do gêmeo que esteve no espaço responderam desta forma a um ambiente como a microgravidade da Estação Espacial Internacional?

Até o momento ninguém sabe a resposta, mas estaremos atentos aos próximos artigos publicados, para descobrir como este quebra-cabeça genético será resolvido.

Javier Peláez

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