VitraHaus. Um showroom ao ar livre, de arquitetura e design.

EM 25 jul, 2016

Olhando por uma ótica, temos a impressão que um furacão fez um redemoinho de casas, jogou-as pro alto, e as devolveu em posições -tecnicamente- estratégicas. Mas não foi nada disso.

Por outra ótica, temos a impressão de que um redemoinho de coisas, ideias, conceitos, unidas pela arquitetura, design, móveis e utensílios, tudo junto, numa soma de valores. É, aí já estamos mais perto do real.

Dois arquitetos criativos e conceituais, Jacques Herzog e Pierre de Meuron, se uniram em um projeto pra la de fenomenal. Os mesmos autores do desenho do Estádio Olímpico de Pequim (2008), China, mais conhecido como “Ninho do Pássaro”. desenvolveram ideias e conceitos, empregando natureza numa região de complexo de fábricas de móveis, museus e locais de eventos via convenções, maioria ligados à decoração, arquitetura e design.

A VitraHaus, que une o nome da Vitra, uma empresa de design, e a palavra casa – “haus” em alemão -, conglomera também dois conceitos presentes na arquitetura de Herzog e de Meuron: a sobreposição de volumes e a busca pela “casa originária” (Urhaus).

Provavelmente o showroom mais inventivo e inteligente dos últimos tempos, está localizado no complexo da Vitra em Weil am Rhein, na Alemanha, próximo da fronteira com a Suíça e França.

 VitraHaus / Herzog & de Meuron,  © Iwan Baan

As primeiras ideias para a VitraHaus foram geradas em 2001, mas, naquela época, o que se pretendia era uma extensão do Vitra Design Museum, projeto de 1989 de Frank Gehry.

O Vitra Design Museum é um museu de patrimônio privado, internacionalmente renomado, para design em Weil am Rhein, Alemanha. Vitra CEO Rolf Fehlbaum fundou o museu em 1989 como uma fundação independente privada.

Em 2004, com o lançamento da linha Home Collection, fez-se necessária a construção de um prédio imponente e espaçoso. 2006 foi o ano do desenvolvimento do projeto que teria sua construção iniciada em 2007.

São cinco andares, se contado o térreo, compostos por 12 “casas” – cinco delas ao rés do chão e outras sete “empilhadas” As unidades são arquetípicas e dão a impressão de estarem dispostas de maneira aleatória, como em uma “colcha de retalhos”.

A articulação arquitetônica das casas, porém, se deve à paisagem. Cada fachada permite a visão de parte do campus Vitra e arredores. Ao norte é possível ver a colina Tüllinger, enquanto ao sul se avista a cidade da Basiléia, na Suíça.

O conceito das “Urhauses” tem a ver com a tentativa de afastar a VitraHaus do que se espera de um showroom tradicional, condicionado a um ascetismo de um “cubo branco”, como os próprios Herzog e de Meuron afirmam. As “casas fundamentais” identificadas pela simplicidade da cobertura em duas águas, por exemplo, aproximariam os espaços expositivos de uma “escala doméstica”, habitável e, em certa medida, familiar aos desenhos infantis e às construções tipicamente germânicas compostas por telhados desse tipo.

Tal conceito é identificável desde as primeiras obras da dupla como a “Casa Azul”, em Oberwil, projetada entre 1978 e 1980 ou o Schaulager (1998-2003), da Fundação Emanuel Hoffmann, em Munique, que é uma espécie de “galeria-depósito” para as obras de arte da entidade.

Questões construtivas

São 21,3 m de altura até o topo, o que faz com que a VitraHaus seja a mais alta construção do complexo Vitra. O prédio, ao contrario das fábricas, por exemplo, se estrutura numa orientação vertical fornecendo uma visão panorâmica do espaço. As unidades, aparentemente simples, são sustentadas por processos mecânicos típicos da produção industrial, como o empilhamento, a extrusão e a prensagem.

As cinco “casas” do térreo são visivelmente mais curtas e largas que as estruturas dos andares superiores e estas, também, não possuem uma unidade dimensional compartilhada. Todos os volumes têm estrutura de concreto e parecem ter sido trabalhados em uma prensa de extrusão, o que lhes teria conferido o perfil exageradamente alongado. A obra apresenta volumes em balanços que pode chegar a 15 m.

As fachadas das extremidades de cada unidade são fechadas por uma pele de vidros que permite a interligação com o exterior. Durante o dia, o visitante vê a paisagem integrada aos ambientes montados no interior da construção; à noite, é o interior do showroom que se destaca através das vidraças.

As paredes, por sua vez, são revestidas por fora por tinta com matiz antracite, um tipo de mineral escuro, o que permite sua integração ao tom betuminoso do telhado e à paisagem como um todo. As paredes ainda receberam tratamento termo-acústico e, por dentro, as divisões são em sistema drywall. O piso é de madeira clara tanto no interior, como no pátio externo usado no verão.

A estrutura empilhada é sustentada pelo encontro das lajes com as empenas (zona superior de uma parede, de forma triangular, que encaixa numa cobertura de duas águas) subjacentes, o que resulta na tridimensionalidade do conjunto. Tal recurso, salvo as proporções, já havia sido empregado em outras obras de Herzog e de Meuron, como na galeria londrina Tate Modern (2000), uma “pilha” ortogonal que lembra uma pirâmide composta por estruturas envidraçadas.

De uma maneira geral, os cinco níveis do showroom da Vitra, dão a impressão de um conjunto caótico, mas ao mesmo tempo belo. Segundo o arquiteto Jacques Herzog, a VitraHaus é fruto de uma visão singular de mundo e o paradoxo está implícito em uma rica e complexa resolução das intersecções que formam a sua estrutura.

Organização interna

Além dos cinco pisos, a VitraHaus tem uma estrutura subterrânea. Ali ficam as áreas de armazenagem de produtos, manutenção e serviços. No térreo, há espaço para a recepção, foyer, loja, café, chapelaria, setor de entregas, business lounge e a Vitrine, dedicada a exposições especiais.

No primeiro andar está uma área que corresponde à extensão do Vitra Design Museum e a primeira parte do showroom propriamente dito que se estende pelos outros três pisos superiores de maneira interligada e quase labiríntica. No quarto e último piso, ainda há um terraço com vista ampla para a região do Reno.

O conceito da VitraHaus conecta dois temas que aparecem repetidamente na obra de Herzog & de Meuron: o tema da casa arquetípica e o tema de volumes empilhados. Em Weil am Rhein, foi especialmente apropriado retornar a ideia de casa própria, já que o objetivo principal de um edifício de cinco pavimentos é exibir mobiliários e objetos para casa. Devido às proporções e dimensões dos espaços internos – os arquitetos usam o termo “escala doméstica” – os ambientes de exposição são uma reminiscência das disposições de residências familiares. As ‘casas’ individuais, que possuem características gerais de um espaço de exibição, são projetadas como volumes abstratos. Com apenas algumas exceções, apenas as empenas das extremidades são envidraçadas e os volumes estruturais parecem ter sido moldados com uma prensa de extrusão. Empilhados em um total de cinco pavimentos e desafiando o balanço em 14 metros em alguns casos, criam uma junção tridimensional – uma pilha de casas que, à primeira vista, tem uma aparência quase caótica.

A cor de carvão do acabamento externo unifica a estrutura, “aterra-a” e conecta-a à paisagem do entorno. Como uma pequena cidade vertical em camadas, a VitraHaus funciona como uma entrada para o Campus. Um piso em placas de madeira define uma área central aberta, onde os cinco edifícios são organizados ao redor: uma área de conferência, um espaço de exposição para a coleção de cadeiras do Vitra Design Museum e um conglomerado que abrange a loja do Vitra Design Museum, um saguão com uma área de recepção e chapelaria e um café com terraço externo para uso no verão. Um elevador leva os visitantes para o quarto pavimento onde o passeio circular inicia. Ao sair do elevador, a empena de vidro voltada para o norte oferece uma vista espetacular do monte Tüllinger. A extremidade oposta – onde o pano de vidro é rebaixado para criar um terraço externo – abre-se para um panorama de Basel com as instalações industriais do setor farmacêutico. Conforme se descobre sobre o caminho pela VitraHaus, a direção da orientação das casas é quase arbitrária, porém determinada pelas vistas da paisagem do entorno.

© Iwan Baan

A complexidade do espaço interno resulta não apenas da interseção angular das unidades das casas como também resulta da integração de um segundo conceito geométrico. Todas as caixas de escada estão integradas aos volumes expansivos e sinuosamente orgânicos que figurativamente “comem” seu caminho pelos vários níveis do edifício como uma minhoca, algumas vezes revelando relações vistas fascinantes entre as diversas casas, em outras vezes bloqueando a visão. As paredes internas possuem acabamento branco a fim de se dar prioridade às exposições dos móveis.

Com as dimensões máximas de 57 metros de comprimento, 54 metros de largura e 21 metros de altura, a VitraHaus eleva-se acima dos outros edifícios presentes no Campus de Vitra. A intenção deliberada não foi criar um edifício horizontal, o tipo comum para as instalações de produção, mas sim uma estrutura verticalmente orientada de projeção limitada, que concede uma visão geral em múltiplos sentidos: uma visão sobre a paisagem ao redor e a condição fabril, mas também uma visão sobre a Coleção Casa. Como os espaços internos e externos se interpenetram, criam-se dois tipos de forma: o ortogonal-poligonal, como percebido do exterior, e o orgânico, que produz uma série de surpresas espaciais no interior – um “mundo secreto” (nas palavras de Herzog & de Meuron) com um caráter sugestivo, quase como um labirinto. No caminho pelos cinco pavimentos, os visitantes atravessam o cosmos da Casa Vitra, finalmente retornando ao seu ponto de partida.

A VitraHaus possui uma visual diurna e uma visual noturna. À noite, a perspectiva é invertida. Durante o dia, avista-se a VitraHaus em meio à paisagem, mas conforme escurece, o interior iluminado do edifício incandesce, enquanto sua estrutura física parece desaparecer. Os ambientes se abrem; as extremidades de vidro transformam-se em caixa de exibição que brilham no Campus de Vitra e no entorno rural.

 Ficha técnica:

  • Arquitetos:Herzog & de Meuron
  • Ano: 2010
  • Tipo de projeto: Otro
  • Status:Construído
  • Materialidade: Vidro
  • Estrutura: Concreto e Tijolo
  • Localização: Weil am Rhein, Alemanha

Equipe:

  1. Arquitetura: Herzog & de Meuron

 

Fonte: Daina Dalfito, em colaboração para o UOL ( http://mulher.uol.com.br/casa-e-decoracao/projetos/autores-do-ninho-do-passaro-empilham-casas-em-showroom-de-design.htm)

Fonte: Marcelo Balbio, O Globo (http://oglobo.globo.com/ela/decoracao/grandes-arquitetos-designers-criam-espaco-na-fronteira-da-alemanha-com-suica-19767201)

imagens: Iwan Baan

Colaboração: Jair Lohn

 

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