Poesia – Cruz e Sousa, Obra Completa vol. 1

Cruz e Sousa Obra Completa Volume 1 POESIA

Organização e Estudo Lauro Junkes Presidente da Academia Catarinense de Letra

Esta edição de Obras Completas de João da Cruz e Sousa se diferencia de todas as anteriores. Primeiramente, incorporam-se algumas dezenas de textos recentemente descobertos e identificados. Tomando como base duas edições anteriores – a da Poesia Completa, organizada por Zahidé L. Muzart, publicada pela Fundação Catarinense de Cultura em 1993, e a da Obra Completa, organizada por Andrade Muricy e atualizada por Alexei Bueno, publicada pela Nova Aguilar em 1995 – foram acrescidos textos trazidos a lume por Uelinton Farias Alves – nas seções “Outros Sonetos” (23 sonetos), “Campesinas” (8 sonetos), “Cambiantes” (1 soneto) e “Dispersas” (29 poemas), todos publicados no livro Cruz e Sousa, Poemas Inéditos, Florianópolis: PapaLivro, 1996 – e por Iaponan Soares/Zilma Gesser Nunes (14 poemas), na seção “Dispersas”, publicados no livro Cruz e Sousa, Dispersos, São Paulo: Fundação Editora da UNESP: Giordano, 1998. Vale ressaltar que os acréscimos não representam apenas aumento de volume, porém auxiliam a elucidar o pensamento e a técnica de Cruz e Sousa. O diferencial mais arrojado desta organização reside na opção por buscar maior aproximação ao evoluir poético do instaurador do Simbolismo no Brasil. Seus poemas inéditos, na absoluta maioria anteriores à sua fase simbolista, foram aos poucos sendo recolhidos e publicados sob o título O Livro Derradeiro, que muitas vezes tem provocado interpretações errôneas. Se o livro foi o derradeiro na sua organização, os poemas não pertencem à última fase do poeta e não representam a madureza do pensamento e da arte poética do autor. Optamos, então, por colocar esse livro em primeiro lugar, antes da sua trilogia de livros simbolistas, que, estes sim, representam a arte madura do poeta. Desafios 20 * CRUZ E SOUSA OBRA COMPLETA VOLUME 1 múltiplos ainda exigirão esforços por longo prazo para estabelecer-se uma ordem cronológica dos poemas desse conjunto; eles, no entanto, representam a primeira fase da criação poética do consagrado autor de Últimos Sonetos. Para estabelecer o texto, procedemos ao cotejo de múltiplas edições, desde a primeira, quando possível, incluindo as fac-similares, e as duas acima referidas, da FCC e da Aguilar. Como objetivo básico, buscamos respeitar a redação do autor e aproximar-nos o mais possível da sua intenção. Como são múltiplas as divergências, não seguimos, na íntegra, nenhuma delas, sobretudo tratando-se da pontuação – importante para definir o sentido dos versos. A atualização ortográfica obedece à grafia atual. Conservamos as apóstrofes quando utilizadas pelo autor, porém suprimimos em casos como nesse, num, desse, dum, dentre. Permaneceu intocada a colocação pronominal utilizada pelo autor, mesmo que fira a norma culta. Nos textos autógrafos, o autor assinava Souza com “z”; porém está consagrada a substituição por “s”: Sousa.

 

NINHO ABANDONADO

À distinta família Simas, pela morte de seu chefe, o Ilmo. Sr. João da Silva Simas.

O vosso lar harmônico e tranqüilo Era um ninho de luz e de esperanças Que como abelhas iriadas, mansas, Nos vossos corações tinham asilo. Havia lá por dentro tanta crença E tanto amor puríssimo, cantando, Que parecia um largo sol faiscando Por majestosa catedral imensa. Agora o ninho está desamparado! Sumiu-se dele o pássaro adorado, O mais ideal dos pássaros do ninho. Não se ouve mais a música sonora Da sua voz – dentro do ninho, agora, Paira a saudade como um bom carinho

 

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