Como uma Fake News é produzida. E reproduzida.

EM 25 maio, 2019

Lie ou Fake News. 

Quando a Lie vira Fake News e muda nossos rumos.

por JotaB, Floripa, 24/5/2019, 22h15m

(Sem expor opinião política ou pessoal)

Quem nunca na vida contou uma estoriazinha para alguém, que não era exatamente assim, ou que nunca tivesse sido como realmente contou? E quando essas estoriazinhas chegaram aos ouvidos de outros colegas, ou nos dos pais e professores, igual ou já alterada? Quem nunca?

Me recordo de lá por volta dos meus já quase esquecidos 10, 11 anos, estar em uma conversa com meu primo Luis Antônio (ele com 11, 12 anos) e falávamos do tio-avô que fora alguns anos antes governador de São Paulo (me refiro à Laudo Natel, casado com uma parenta por parte de nossos pais). Um colega ouviu a história sem que percebêssemos. Naquela tarde, quando cheguei na escola, meus colegas fizeram um corredor polonês, por onde tive que passar, aos gritos, provocações e exclamações alvoroçadas de “filhinho do presidente” e coisas do gênero. Passei maior vergonha que só foi contida ao entar na sala, numa aula de matemática onde a saudosa e sempre querida d.Ester, conteve esse temperamento de exaltação ao aniquilamento humano!

Isso não era uma fake news, pois não era uma lie!

Se fosse, teria sido minha primeira experiência, nua e crua, de algo assim, com suas consequências expostas.

Mas é assim que se cria uma fake news. De uma história real, se inverte, se despolariza o tema principal, se amplia ou se cria ramificações negativas do tema e se divulga na frente de um ventilador, sem rumo, direção. Quanto mais se espalhar, melhor para quem tem o objetivo desta construção liediana maldita!

Esta semana presenciei duas situações de divulgação de fake news que vou aqui relatar para vermos as duas formas desastrosas de como a humanidade está usando a maldade como pano de fundo em suas conquistas.

O episódio Educação.

Primeiro, tendo a ver com todo esse ensejo dos cortes de verbas que o governo federal lançou para toda área educacional do país. Da fala de um ministro sairam palavras que incitaram muitos a acreditarem no que ele disse. Ao se referir ao tema como justificativa para ação dos cortes, o Ministro mencionou que nas “Universidades só tem drogados e maconheiros”. Depois, num segundo momento, ele se corrigiu dizendo que na verdade ele quis dizer que “entre os estudantes tem muitos que são usuários de drogas e maus aproveitadores dos recursos públicos da educação”.

Pois bem. Ainda ontem, uma colega, senhora nos mais dos seus 70 anos, de pouco estudo, de vida sofrida e pouco conhecimento cultural, ouvi dela a argumentação de que “nas universidades só tem maconheiros”. Ou seja, ela reproduziu para mim essa exclamação do Ministro não se dando ao trabalaho de ter prestado atenção à retratação dele, e muito menos, fazendo juizo em defesa das pessoas que lá estudam. Eu apenas perguntei para ela: “então, quer dizer que minhas filhas e primas, que estão estudando em universidades, são usuárias de drogas?”. Ela se calou e alí deve ter entendido, mas não assimilado, que se tratava de uma fake news!

Sim, existem muitos drogados dentro das universidades, mas eles existem dentro de todos os lugares que nós vivemos e enxergamos, dentro dos palácios, câmaras e órgãos do governo, dentro das empresas privadas, nos corredores de cinemas, shopping, estacionamentos, nas nossas ruas, casas e vizinhos. Então, o tema em si, é tão irrelevante, que não podemos assim digeri-lo. Se não, damos gás para a fake news e as consequências serão devastadoras.

O episódio Neymar.

O jogador do Paris Saint-German deu um soco em um torcedor e aí o mundo caiu em cima dele. Bom, a motivação em si, o que rolou nesse preâmbulo, aqui, não é a questão. Quem está certo ou errado e como será a punição para um ou outro, isso não nos interessa. Mas o que interessa, é que, na fila de um supermercado, na noite de terça-feira, ouvi um cidadão argumentar a seguinte frase com uma outra pessoa: “Neymar socou o torcedor porque ouviu do torcedor que ele (Neymar) era fraquinho, frangote, porque é homossexual…”.  Pilhéria. Ou falta de pilhéria.

Quando cheguei em casa, na primeira oportunidade, busquei por qualquer informação que me levasse à alguma notícia sobre o caso, que mostrasse o que o torcedor, exatamente, teria dito à Neymar. Não achei nada. Simplesmente porque os noticiários não quiseram (ou puderam) reproduzir exatamente o que aquele homem teria dito (ou feito) para Neymar. Só ele e as pessoas em torno deles, é que ouviram e sabem o que realmente aconteceu.

Mas o interessante, é que nada foi reproduzido à respeito. Explicitamente, nada foi dito de, de fato, do que ocorreu ali, naqueles menos de 30 segundos.

O que essa pessoa fez, na fila do supermercado, foi (sem saber) querer criar ou começar uma fake news.

Neste caso, não rolou. Morreu ali.

A fórmula da destruição.

Elas são criadas com um único objetivo: atingir algo ou alguém. E, em 99% das vezes, para destruir.

Antigamente, disfarçadas nos jornais e telejornais, as notícias eras lies, disfarçadas como se fossem acontecimentos ou ideias reais. Assim se criaram muitas situações, mortes provocadas que se passaram por casuais, subornos transformados em chantagens (ou vice-versa), vitórias compradas com dinheiro e poder, e coisas assim.

Hoje, com o uso da tecnologia, e que todos nós já sabemos, ferramentas como Facebook, WhatsApp, Twitter, entre outras, se transformaram em bombas digitais, bits-venenos. Com as métricas apuradas das mídias, é possível se saber o declinio de pensamento das pessoas para assim se saber o que oferecer à elas.

Da mesma forma como pesquiso no Google sobre preços de um refrigerador novo, e um minuto depois, saindo desse foco e estando a olhar para o conteúdo de um outro site, de assunto totalmente adverso à isso, começam a aparecer propagandas de refrigeradores, e, a partir daí, para todos os lados digitais que eu olhe, só verei propagandas desse tema. Como se elas me perseguissem. E realmente me perseguirão por algum tempo.

Esse mesmo recurso é usado para distribuir as fake news. Até você dar um basta ou descurtir as pessoas de onde você recebe tais lies.

Mais que elegerem presidentes, derrubar valor econômicos de ações nas bolsas de valores, desmerecer uma pessoa, um artista, um time de futebol, mais que tudo isso, as fake news acabam com nossas convicções, emoções e liberdade de expressão e enxergar o mundo. Sendo a moderna maldade do século, terão que serem superadas pelo bom senso das pessoas. Afinal, para esta doença, existe cura.

Conhecimento.

 

(artigo publicado nesta íntegra pela Exame Digital e Intercom.CBS.ing)

 

Outras Matérias

Comentários

0 comentários

Enviar um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *