Porque a Pirataria está voltando

EM 29 ago, 2019

Do Céu ao Inferno. Os novos tempos e as velhas práticas.

por JotaB, SJ, 29/8/2019, 11h10m.

Sempre que consumimos algo sem permissão legal do dono, é uma pirataria. Ao se apropriar, será roubo ou furto. Tudo isso é crime, cada qual por seus ritos jurídicos, da investigação, julgamento, penalidade e cumprimento da pena.

E qualquer pessoa quer fugir de qualquer tipo de punição.

Mas da pirataria, parece ser difícil. Seja pela inércia ou dificuldade de ser penalizado ou pela facilidade de se cometer tal delito.

O Auge

Quando a indústria fonográfica começou a ganhar muito dinheiro com a vendagem de discos, os ainda apelidados de “borrachudos” (os “LP´s”), uma das formas de valorizar o intérprete era tornar os seus discos mais caros na relação com outros intérpretes; se fazia sucesso, custava 100; se estava no intermediário, custava 50,70; se tocava pouco nas emissoras de rádio ou já eram antigos, custava 20, 30.

Mas ninguém queria ouvir músicas antigas (só os saudosistas, mas estes pagavam qualquer valor pelo LP); muito menos queriam ouvir músicas que ninguém estava dando importância. O foco era quem estava no topo, nas cabeceiras das listas do sucesso, do momento.

Foi então que alguém produziu uma cópia fiel do mesmo LP que, por não passar pelo controle da gravadora oficial, já que era produzido no “fundo de quintal”, se tornava mais barato, custo reduzido, preço de venda menor. Nasceu a pirataria musical.

Depois, surgiram as fitas cassetes. Que era mais fácil ainda para se reproduzir (ou fazer uma cópia). Tudo sem pagar direitos autorais. Pirataria pura!

As indústrias de eletrônicos começaram então a produzir rádios-gravadores com dois types (lugar para se colocar fitas para ouvir ou gravar). Como ninguém ouve duas fitas ao mesmo tempo, significa que fora feito para se copiar o conteúdo de um type para o outro. Tudo favorecia à pirataria.

Nas fitas cassetes criaram até uma “linguetinha” na parte inferior que, se quebradas, impedia as fitas de serem apagadas ou reproduzidas. Como se isso impedisse de serem copiadas. Só por um tempo foi possível, até descobrirem uma forma de burlar esses lacres.

Depois vieram os CD´s, DVD´s, … Surgiram os filmes em DVD´s… Veio a internet, que permitiu o compartilhamento de informações, a pirataria digital, on line. Foi o auge.

A Derrubada

Então, um dia, a CIA com ajuda da Interpol, deflagraram uma operação que prendeu os criadores de alguns sites que vendiam e permitiam cópias e exibições de música, filmes e documentários, via internet, on line; e tudo, PIRATA, claro!

Os sites saíram do ar. Surgiram instantaneamente cópias fiéis destes sites, que eles derrubaram também e tudo foi entrando em declínio.

Surgiram então programas de segurança avançados para combater tudo que é ilegal (sem direitos autorais ou direito de acesso). Surgiram software´s que monitoram e fazem um verdadeiro serviço de fireware. Enfim, a tecnologia do software começou a dificultar muito para os piratas.

Já era possível se assistir qualquer coisa, de qualquer canal, aberto ou pago, na internet. Se achava de tudo, de um filme à uma partida de futebol. Mas, com o combate, tudo ficou difícil. Muito difícil.

Algo que passa no SPORT TV, por exemplo, só ali, no canal oficial.

Então, surgiram uns dribles. Lugares na internet que você paga numa forma discreta, mas paga, para acessar algum filme ou jogo, sem ser no canal oficial.

Ou seja, você paga para ter acesso a algo pirata. E tem quem paga! Parece absurdo, mas é real.

A revolução digital

No início da internet comercial, o mundo percebeu o quão fácil era compartilhar (ou piratear) uma mídia. Se no início foram as músicas, graças ao seu tamanho compacto, compatível com as conexões discadas e limitadas da época; conforme a banda larga se difundia, filmes e seriados começavam a ser distribuídos online com mais facilidade. Enquanto isso, a indústria fonográfica e cinematográfica batia cabeça para entender essa nova dinâmica da Era Conectividade e como lidar com essa situação.

Os anos passaram e o mercado conseguiu entender que pirataria não era apenas o desejo de não pagar por um produto; era também uma questão de conveniência. Mais conveniente que a pirataria e já que boa parte do público topa pagar uma quantia para ter acesso às suas músicas, filmes e séries preferidas, se enxerga que os serviços de streaming começaram a cair no gosto do usuário de internet, representados em especial por Spotify e Netflix, ambos com catálogos gigantescos, diversos, disponíveis em múltiplos dispositivos e permitindo acesso instantâneo ao seu conteúdo preferido, sem precisar gastar tempo procurando uma fonte confiável e esperar o download terminar.

O tempo fez com que várias empresas quisessem sua fatia desse bolo.

Começaram a surgir vários competidores, cada um apostando em conteúdo original ou acordos de exclusividade que fizeram com que o mercado começasse a se fragmentar.

Temos então a Apple Music, YouTube Music, Deezer, Tidal e outros serviços; ocasionalmente, alguns álbuns são lançados de forma exclusiva em uma das plataformas, restringindo o acesso dos assinantes dos outros. Lançado na Nuvem. De um modo geral, no entanto, as exclusividades são raras e normalmente temporárias; então, os catálogos são bastante homogêneos, com a principal diferenciação se tornando os recursos tecnológicos.

No mercado de vídeo, a situação ficou consideravelmente mais complexa. Se a Netflix concentrava conteúdo de inúmeras fontes há alguns anos, cada vez mais produtoras e estúdios começaram a perceber que talvez fosse mais rentável trancar o seu material atrás de um serviço próprio em vez de receber alguns trocados cada vez que um filme seu é reproduzido. Nasceram daí HBO Go, Disney+, Hulu, Amazon Prime Video e outros que já estão no mercado e que ainda estão por vir, todos investindo em material exclusivo, seja original, seja obtido por meio de acordos de exibição.

A ressurreição da pirataria

Essa situação criou uma nova dinâmica: se alguém quiser ter acesso a todo o conteúdo que quer, precisa pagar um valor mensal pesado para assinar múltiplos serviços de streaming. Só Netflix não dará mais conta de trazer todos os filmes e séries que uma pessoa quer.

Diante disso, o mercado já começa a interpretar o impacto do que ficou conhecido como “fadiga das assinaturas”, que é o ponto em que os usuários começam a rejeitar a assinatura de novos serviços pelo fato de seus orçamentos não suportarem mais um “pedágio” mensal para acessar conteúdo exclusivo.

A Muso, empresa britânica que monitora a pirataria na internet desde 2009, observa essa situação como propícia para o ressurgimento do compartilhamento irregular de arquivos na internet. A companhia nota que, apesar de a exclusividade ser um fator que cria lealdade do consumidor, muitos serviços com conteúdos exclusivos “inevitavelmente gerará mais e mais pirataria digital”.

“A chegada de mais e mais plataformas distintas vai trazer uma era de fragmentação ainda maior, e, ao mesmo tempo, alienar o consumidor que poderia estar disposto a pagar pelo conteúdo simplesmente porque eles não podem justificar pagar por outro serviço quando tudo que eles realmente queriam era uma série ou filme”, explica Andy Chatterley, CEO da Muso.

De fato, esse movimento já é observado em várias partes do mundo. Aqui no Brasil, segundo estudo da própria Muso, o número de acessos a sites dedicados à pirataria aumentou 12,5% entre 2017 e 2018.

Enquanto os produtores da música e do cinema e os donos das plataformas que irão levar este conteúdo não encontrarem uma forma (de meio termo) que ajuste esta realidade para não ter que se deparar com a pirataria novamente, é muito provável que os investidores da pirataria também se encaminhem para criar alguma produto que faça esse meio de campo. Pois um não extingue o outro. Já que o universo da televisão aberta com a paga está se reinventando para os novos tempos, e o cinema acompanha esse caminhar, o mundo da pirataria que renasceu, certamente deve estar de olho na próxima onda.

Só tem um detalhe desse cenário: tem quem consegue ficar sem ver a nova temporada da série por conta de ter que pagar para isso e a pessoa não o quer. É diferente de ter que pagar para ir passear num shopping, Europa; diferente de ter que comprar comida para sobreviver. Tem coisas que precisamos, outras substituímos e outras deixamos em stand-by.

 

 

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