O senhor Gentil e sua majestate Intolerância

EM 18 jun, 2019

O incrível hábito que pode ajudar.

Ou não.

por JotaB, Floripa, 17/6/19, 22h15m

No silêncio da minha reclusão noturna, antes que o sono se faça vencedor e a noite caia, me vem o pensamento que abomina nós mortais: até onde estender a mão é infinito amor.

Em tempos onde a intolerância se faz tão presente e as pessoas não sabem mais pensar e refletir com razão e sabedoria, me declino em expor meu pensar.

Cansáveis discursos e palestras de autoestima, incontáveis anúncios em types de telejornais, os inúmeros padres em suas pregações do amor cristão… quanto discurso já recebi e que prega essa vertente de que o amor cura, o amor é vida, o amor é tudo o que nós temos como alimento.

Frases lindas. Citações fantásticas.

Mas sempre me recaio ao pensar o quanto muitos exageram ou interpretam errado essa prática. Mas Cristo (para os crentes católicos -e nem vou me alongar à todos os cristãos) não disse que devemos amar sem qualquer reassalva?

Será? Não ter limites?!

É quando me pego pensando na gentileza. A prática da gentileza na contramão da intolerância.

A fila do trânsito, na manhã caótica desta segunda-feira, com seus usuários ainda sonolentos, fazendo planos (ou não) da rotina que terão, pensando nos compromissos difíceis, nos amores, na vitória de seus times, no almoço em família do domingo…. entre tantos pensamentos, as filas gigantescas. E de repente ela pára. Travada. Não anda. Os “tic-tac” do relógio assombrando à memória, por que o tempo passa e cada segundo, se atrasa.

Mas parece que ninguém tem pressa. Quando a fila volta à andar, numa via que a velocidade mínima é 40 Km/h, a maioria se alonga como tartaruga à uns 20… E no cruzamento preferencial, pára para a prática da gentileza, e deixa uma infindável fila de outros carros entarem na via, mesmo que contrarie a legislação de trânsito.

É quando então me pergunto até onde vai o amor fraternal, aquele pregado por Cristo, e até onde vai a tal “gentileza”.

Sem ser intonerante, me vejo no dilema de como pode uma pessoa querer ser gentil enquanto prejudica toda uma multidão que se afileira atrás dele, sem ser consultado ou autorizado a tal ato.

E se a buzina soa, como um lampejo de alerta das duas infrações (da lei e ordem, e, da falta de gentileza por quem vem atrás, na fila), soa como intolerante e arbitrário.

Antes que o sono, por fim, me vença, vem o último pensamento.

Só se pode ser gentil com alguém quando tudo só depende de quem quer ser gentil e de quem será o presenteado.

Não dá para ser gentil sendo injusto ou obtuso com outras pessoas. Afinal, eu atrás, na fila, não autorizei outrem em nenhuma decisão.

Até porque, vai que, ao ser gentil, o cidadão da frente se depara com a morte. Eu é que não quero ser cúmplice ou avalista desta decisão.

Me poupe, quero dormir agora, mas acordar amanhã cedo. Que meu sono seja gentil comigo, afinal, é ele e eu e mais ninguém.

 

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